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segunda-feira, 24 de março de 2014

DA MAGIA AO PODER
Athayde Alves

Hoje basta um microfone e uma mesa amplificada dentro de uma sala, mesmo que comum, para se comunicar com a comunidade, com o país ou com o mundo, dependendo da capacidade transmissora de ondas sonoras. Do outro lado, apenas um receptor, dantes uma caixa com autofalante, hoje um simples artefato eletrônico. Pronto, isso basta para estabelecer uma ligação de transmissão e recepção da fala entre as pessoas. O radio é esse instrumento mágico que, ainda hoje, permanece como o veiculo mais imediato de comunicação humana. Através do radio, noticias, discursos, orações e entretenimento desde sua criação tem sido a tônica de mensagens de toda espécie. Diante do microfone homens e mulheres se fizeram conhecidos e ganharam fama e poder. Nós que militamos no radio e que somos, ou um dia fomos, radialistas ainda hoje mantemos em mente os bons momentos vividos nos diversos tipos de comportamento estabelecidos com nossos ouvintes e que certamente deixamos alguma marca importante na memoria daqueles que viveram nossa época e que puderam ouvir nossa voz. Trabalho artístico que nos proporcionou também grandes amizades como verdadeira irmandade entre conterrâneos e contemporâneos, parceiros épicos inesquecíveis. Cada um de nós, a seu estilo, cravou uma marca junto a inúmeras pessoas ouvintes, que um dia foram fãs. Lembranças que ainda hoje permanecem entre aqueles que ainda vivem e que de nós não se esquecem. Certamente não querem se olvidar ou não podem deixar de lembrar momentos importantes que um dia fincaram suas vidas. E nossas também. Se não pela voz, então pelo estilo, o radio tem sido um grande e importante meio de comunicação que opera milagres, fazendo jus a fama de ser “o dom mais precioso que Deus dotou à humanidade”. Através dele alimentamos nossas fantasias enquanto não nos é permitido visualizar. Nos velhos tempos foi assim, pois até que não proliferavam as transmissões televisivas, a imaginação causava audiência. A época em referencia é a década de 60. Anos históricos da liderança radiofônica e o inicio de minha carreira como radialista no norte do Paraná. Assim como todos profissionais do interior, o modelo de um programa de radio era baseado em um estilo apresentado por famosos, nas grandes capitais. A principal fonte inspiradora era a capital paulista, sede das maiores emissoras de radio do pais. De São Paulo, as rádios Bandeirantes, Tupi, Excelsior e Record onde seus Locutores se destacavam nacionalmente como, Luiz Aguiar e seu jargão de cumprimentos nas tardes da Bandeirantes: “Oi Gente!”; Estevan Sangirard, que enviava seus programas às emissoras de todo Brasil em disco long play patrocinado pela Kollynos; Humberto Marçal, Ferreira Martins, Enzo de Almeida Passos à frente de programas musicais variados; Vicente Leporacci que todas as manhãs fazia seus ásperos comentários opinativos em “O Trabuco” em parceria com o economista Joelmir Beting; as transmissões de futebol na memorável voz de Fiori Giglioti, -famoso pela sua frase de abertura “abrem-se as cortinas e começa o espetáculo torcida brasileira”- e as reportagens de José Paulo de Andrade. Mas o destaque maior dos anos 60/70 credito a Helio Ribeiro –o poder da mensagem. Um estilo ousado, enfadonho, as vezes, e por isso criticado por muitos pelo fato de falar sobre as musicas. Mas suas frases eram repetidas pelo pais afora: “sabe quem? Sabe quem?” e “este programa é ouvido pela moça do karmanguia vermelho”. O radio carioca era menos ouvido na nossa região, por dificuldade de sintonia. Mesmo assim os famosos receptores da Philco capitavam com clareza o Salão Grenat de Colid Filho à meia noite na Radio Nacional do Rio; a malandragem do paranaense de Cornelio Procopio e que se tornou ídolo carioca Adelson Aves com seu “Comando da Madrugada” na Globo; e na mesma emissora o novo estilo de narração de futebol de Osmar Santos e o seu “pimba na gorduchina’. De outra região do país não tenho lembrança de nomes de locutores ou de programas. Apenas os noticiários das radios Guaiba e Farroupilha, referencia nacional e patrocínio forte da Renner “a costura ponto por ponto”. No geral, outros não menos famosos ou cujos nomes não me afloram à memoria, mas que tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro defendiam seus prefixos e encantavam seus ouvintes através de ondas médias, curtas e faixas tropicais. Enquanto isso, nós tupiniquins agitávamos a criatividade e o talento ‘copiativo’ para ganhar destaque entre nossos radiouvintes. Embora num círculo de dimensões bem menores que os de nossos ídolos, ganhávamos também nossos admiradores que, de ouvidos pregados num receptor, apenas imaginavam nossos perfis físicos com base no poderio vocálico e inteligente de cada um. Para ouvintes dessa época, difícil não lembrar de nomes famosos do radio procopense como Gabriel dos Santos, crioulo esbelto que do alto de seus quase dois metros de altura ganhou fama pelo seu vozeirão lindo e uma forma inusitada de se comunicar tocando ritmos como hulli gulli e a-go-go, famosos na época. Bié agitava as tardes com seu Ritmos para Juventude de audiência cativa e picape permanente dos grandes ídolos da época como, The Beatles, The Mamas And Papas, Elvis Presley, Roberto e Erasmo Carlos, Wanderley Cardoso, Deny e Dino, Trio Esperança, Os Incriveis e outros não menos famosos. Em cidade de apenas duas emissoras de radio a concorrência era acirrada pela liderança de audiência e seus locutores davam tudo de si para estarem na crista da onda. Lembranças positivas de vozes marcantes como Helio Claudino e Irahy Claudino, dois craques em jornadas esportivas; Ivan Sampaio, bom de improviso; Valrides Brevilheri, que virou dono da radio; Waldomiro Alfredo, gerente da outra emissora; Jota Monteiro de voz maviosa, Flavio Toledo, especialista em concurso de miss; Luiz Fernandes, imitador nordestino com perfeição; e nesse meio o aprendizado de Ataide Cuqui, que bem comandava, entre outros, o Paradão 1080; Nilson Fidelis que se caracterizou com o ‘Juventude 2001’ e ‘Fim de Noite’ e, por fim, eu Athayde Alves, que dentre eles ganhei notoriedade com o meu ‘Show das 12’, reproduzindo o estilo Helio Ribeiro e que me conferiu um fenômeno de audiência. Não citarei outros nomes para evitar delongas, mas muitos outros foram ícones igualmente num painel de celebridades.

Um comentário:

  1. Um texto descritivo sobre o rádio por Athayde Alves - Jornalista de Campo Grande-MS

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