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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

TEMÁTICO

Imagem:Web


UM DIA, UMA HISTÓRIA

Estranho. São tantas coisas! A nossa vida é feita de tantos casos, e na hora que precisamos contar um, vem a dúvida. É difícil fazer a escolha de algum interessante, que realmente valha a pena deitá-lo sobre o papel. Mas eu tenho um, aquele conhecido como: “A chacina de Cornélio Procópio”. Eu estava lá. Não passava de um garoto, mas estava lá.

Cornélio Procópio, uma pacata cidade do norte do Paraná, chegou a ensaiar um curto progresso quando a cultura do café ainda era um forte filão e dominava o comércio agrícola em várias regiões do país. Em meados da década de 60, um crime hediondo ocorrido nas cercanias do município, colocou o nome da cidade em evidência no cenário nacional e internacional.

Uma garotinha, com poucos anos de idade, fora brutal e cruelmente estuprada e morta. O assassino, depois de preso, fora conduzido para a cadeia pública local. A notícia espalhou-se rapidamente. Um radialista da cidade, em pleno exercício da função, porém incapaz de avaliar o clima de tensão que o acontecimento provocara, fez uma entrevista com o assassino psicopata, que relatou, do começo ao fim, e em detalhes, o crime que praticara.

A cadeia ficava muito próxima da zona do meretrício. As moradoras do local foram as primeiras a se manifestarem contra o comportamento do bandido. Beirava às 6 da tarde. As pessoas saiam do trabalho e, ao invés de irem para suas casas, se dirigiam para a cadeia. No caminho, um avisava a outros e a platéia foi aumentando rapidamente. Em pouco tempo, aquilo parecia um grande circo. Um circo onde o sorriso deu lugar ao lamento, à dor e ao ódio. O local era uma balbúrdia só. Gritos, xingamentos, punhos levantados e pedidos para que o infanticida fosse solto e a justiça fosse feita pelas mãos do povo ali mesmo. As autoridades, agindo como manda a lei, insistiam na proteção do preso. A situação tendia para um desfecho perigoso. Uma chuva de pedras, misturadas ao estouro de bombinhas, caia sobre o prédio da delegacia. Vidros já não existiam mais. A própria polícia estava muito assustada e recebeu ordens para atirar para o alto, para assustar o povo. Infelizmente, como sempre acontece em situações assim, alguns preferiram mirar em direção à turba. Foi uma das tardes mais sanguinárias que já se teve notícias no Paraná. Os mortos passaram, em muito, a casa de uma dezena. E os feridos então... Pessoas decentes, trabalhadoras, honestas que queriam apenas fazer justiça, perderam a vida. Outra quantidade semelhante ficou ferida; algumas com seqüelas para o resto de seus dias. Muitos, ainda hoje, guardam a nefasta marca daquela tarde. O tarado ficou bem vivo. Soube-se, posteriormente, que fora retirado, sem que ninguém desconfiasse, pelo meio do povo disfarçado de guarda noturno, uma corporação que costumava fazer a ronda nas ruas durante a noite e que usava, como uniforme, calça azul-marinho, camisa de mangas-longas também em azul num tom mais claro e bonés.

O radialista, cuja entrevista fora o pivô da revolta, foi julgado anos depois e declarado inocente. Não sei dizer que fim levou o tarado cujo primeiro nome era Sebastião. O túmulo onde foi enterrada a criança é o mais visitado no cemitério da cidade. Lá as pessoas fazem suas preces, promessas e pedidos em busca de um milagre em meio a um mar de velas acesas e buquês de flores. Esta é a história.

4 comentários:

  1. Olá Nilson,

    Desconhecia o fato. Triste. Porém, faz parte da história da Cidade, do Estado e deve manter-se em registro para que não caia no esquecimento ...

    beijos.
    Helena

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  2. JANES DE FÁTIMA PALAZZO9 de agosto de 2010 às 11:17

    Sensacional a história. Bem me lembro deste dia, apesar de criança ainda...meu irmão não voltava para casa... minha mãe preocupada... Foi um sufoco só. História que marcou não só a cidade de Cornélio Procópio como de todas as pessoas que ali moravam.
    Janes de Fátima Palazzo

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  3. Minhas Amigas: Janes e Helena
    Valeu pelo comentário. Realmente foi um episódio triste, contudo não consegui encontrar nenhum registro do fato, pelo menos na "Net".
    Abraços

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  4. Ola Nilson encontrei a sua publicação hoje dia 06/01/2016, não pensei duas vezes para postar o meu comentário aqui. Deixo bem claro, que eu fui testemunha ocular deste triste ocorrido, hoje morando em SP, em alguns meses completando 60 anos, neste dia terrível estávamos em casa, morávamos na Vila Gavião, hoje essa vila não existe mais, ela ficava bem em frente a delegacia, na descidona, estávamos em casa, eu Maurílio com uns 8 anos, meu irmão Mauro, com 13 anos, meu irmão Maurício mais velho com 16, ouviu pela radio, e nos levou para a frente da delegacia, quando chegamos a multidão tomava conta da frente e das ruas no contorno da delegacia, ficamos bem no meio da rua em frente ao portão da delegacia, ouvia as gritarias dos homens e mulheres, uma frase que nunca vai sair da minha mente que eles gritavam é essa: Solta ele que vamos dar mamadeiras pra ele! O empurra empurra, era grande, uma sena que nunca vai sair da minha cabeça foi a seguinte: Um carro ia saindo pelo portão lateral da delegacia deveria ser um Aeroilis,o povo correu pra ver se o assassino estava no carro, sena que me marcou muito foi ver o carro cercado pela multidão, o povo levantou o carro no ar, isso mesmo, o carro ficou uns 30 a 40 centímetros do chão, só colocarão no chão quando o motorista desligou o motor, e disse para o povo revistar o veiculo, o motorista abriu porta mala e só ai então liberaram pra ele ir embora! Passado um tempo, minha mãe nos muito zelosa pela família, veio e nos achou no meio da multidão Me veio a mente esse texto Bíblico: Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe,
    Porque serão como diadema gracioso em tua cabeça, e colares ao teu pescoço.
    Provérbios 1:8, 9. Me veio as lágrimas aos olhos também! Desculpe-me! Minha mãe nos encontrando ali foi coisa de Deus, não tenho duvidas algumas disto! Seguimos ela, quando estávamos descendo chegando próximo á Vila Gavião, desligaram a energia da vila, ficando tudo escuro, logo escutamos a saraivada de tiros, minha mãe, do nosso lado tinha uma casa de madeira, e um porão alto, mais que depressa minha mãe, nos empurrou para baixo deste porão, eu via bala passando por cima como brasa, foi terrível aqueles minutos, um tempo depois saímos e fomos pra nossa casa ilesos, graças á Deus! Não sei com precisão quantos minutos ficamos debaixo daquele porão, mas poço lhe afirmar: Foi um grande livramento de Deus! Mais contato para um papo de Procopense: Meu Zap 99714-1177 Vivo. Abraço, Maurílio.

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