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domingo, 28 de março de 2010

PROSA

REDOMA DE CHOCOLATE-03

A lógica do faz-de-conta

O objetivo deste relato não é apenas tecer críticas à sociedade vilã e à elite despojada que buscam a qualquer preço, afastar suas responsabilidades sobre a parcela da população que habita o lado magro, obscuro e indesejável das cidades. Ele pretende mostrar também, que as diferenças não precisam ser tratadas com indiferença, e que conflitos podem ser amenizados, e até evitados se houver um pouco de dignidade e bom senso. Muito se tem falado sobre o estigma da pobreza no mundo; mas efetivamente nada, ou quase nada, se faz em seu favor. Fica tudo no discurso do faz-de-conta. Enquanto isso as estatísticas engordam mostrando que, a cada batida do relógio, o lado pobre ganha novos integrantes e os extremos dessa relação se distanciam aceleradamente em rumos opostos.

É claro que a marginalidade pode ser incentivada no seio da miséria. Mas não porque existe uma índole criminosa escondida na pele de indivíduos pobres, como pretendem atribuir. A marginalidade surge muito mais pela vontade de ter os mesmos direitos, consumir os mesmos produtos, receber a mesma assistência, de ter a mesma atenção que a elite tem. A mídia se encarrega de repassar a imagem estereotipada do mundo perfeito. Gente bonita, uma matriz metafórica, sobejamente montada em cima de um extenso mercado de consumo bem nutrido, sofisticado, convidativo. Quem é que não quer desfrutar de um mundo repleto de bem estar e de prazer?

A visualização constante da impossibilidade de usufruir desse mundo fabricado pela mídia, de forma natural como mandaria a lógica, somado a outros fatores de ordem emocional e psicológico, é que fazem dos habitantes da fatia obscura da sociedade, candidatos em potencial ao universo da criminalidade. Contudo é bom lembrar que estes candidatos não aparecem em apenas um dos lados. Felizmente, a boa imprensa tem feito o seu trabalho. Graças a ele sabemos da podridão que permeia a outra banda, o lado da opulência, a malha corrupta que transgride em rede nacional a olhos vistos, surrupiando abertamente os cofres do país, ignorando presunçosamente autoridades e leis. Estes não são Negros nem pobres. São homens Gordos, poderosos, bem trajados, prepotentes, arrogantes, inatingíveis, que se comportam e se acham acima da lei. Aos Negros e pobres, o rigor dos cárceres. Aos homens Gordos de colarinhos duros e gravatas, o pipocar dos flashes, os holofotes. Não venham, portanto, querendo colocar a carapuça numa única cabeça. Podem até atirá-la, mas que ela seja xifópaga.

Neste apanhado, será mostrada a trajetória da família de Pedro e Maria, um grupo que mesmo tendo convivido frente a frente com todos os agentes influenciadores da marginalidade, preferiu o caminho do bem. Terá sido um golpe de sorte? Talvez. Mas também pode ter sido o resultado de uma convivência simples, sadia, ao lado de pessoas despidas do espírito da maldade e da ambição; complementado pelo pulso firme, rígido e honesto de uma mulher franzina e analfabeta chamada Maria. Porque Pedro, ao perceber que as dificuldades em Minas Gerais e no Paraná eram as mesmas, covardemente desapareceu no mundo deixando Maria ao relento com uma prole composta por seis filhos, onde o mais velho somava doze anos de idade e o mais novo seis meses.

Quando a segregação social atinge o indivíduo, quando ele é estigmatizado pela fome, pela sede, pelo frio, pela doença. Quando não vê alternativa para si nem para os seus, a premência coloca-o sobre o fio da navalha. Basta um pequeno sopro para cair em desgraça, para tornar-se um meliante, um fora-da-lei. Porém a família de Maria não caiu. Resistiu à fome, à doença, à discriminação, à indiferença, à humilhação, aos maus- tratos. Eles passaram incólumes no teste; fizeram frente a tudo e encontraram um caminho.

3 comentários:

  1. Meu caro Fidelis, estou ao lado de sua afilhada a Natasha que ainda não entendeu muito bem o seu texto mas ela vai ler novamente e fazer um comentário a respeito.OK?
    Um abraço do Bruno.

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  2. Oi amigo Brunão, como vai?
    É uma alegria saber que minha afilhada está me acompanhando no blog. Diga a ela que para entender o texto precisa ler desde o começo-Apresentação, 001, 002, 003 e daí por diante. Para isso ela precisa clicar no mês de março que foi quando publiquei as outras partes. Elas aparecem em ordem decrescente. É isso.

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  3. Oi Nat e Bruno,
    eu disse março, mas na verdade
    tem clicar em fevereiro que foi o começo
    de REDOMA DE CHOCOLATE

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