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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

PROSA



REDOMA DE CHOCOLATE
Figura: Trabalho do Tainan-6ª série do fundamental
disciplina:Informática

Apresentação

Para que a vida se desenvolva, a Natureza criou suas regras. São regras justas e harmônicas que permitem a tudo o que existe no planeta, se desenvolva de uma forma satisfatória, perfeita. Pensando no melhor meio de manter uma convivência em comum, o Homem também criou suas regras. Entretanto, por mais que queira, não consegue harmonizá-las, nem tampouco torná-las justas. São aspectos que levam a conflitos constantes, provocando desequilíbrios devastadores entre os diversos grupamentos de pessoas, principalmente um deles, o de Negros.
A vida é a única riqueza real que o Homem possui. Ela avança no tempo aproveitando as oportunidades que lhes são oferecidas. Pode-se afirmar que a qualidade de vida é diretamente proporcional ao aproveitamento das oportunidades que se apresentam. Elas são muitas, contudo nem sempre são bem aproveitadas, tampouco distribuídas igualitariamente. Basta olhar para as classificações existentes nas escalas sociais. Em qualquer estratificação, onde a base é sempre representada pela pobreza, a maioria é Negra.
Centenas de estudos de especialistas na área econômica e social, comprovam mediante dados estatísticos e históricos, a situação degradante do Negro. A maioria destes estudos conclui que a raça Negra não tem e nunca teve as mesmas oportunidades que outros grupamentos. Não é para polemizar, é uma realidade que está colocada ai para quem quiser enxergar. O Negro tem os salários mais baixos, estuda nas piores escolas, tem o menor índice de assistência à saúde, na cidade mora nos lugares mais distantes e nas piores casas. Seu nível de qualidade de vida está entre os piores em qualquer lugar do mundo, inclusive no Brasil. Também é negra a maior parte da população carcerária do país, dos mendicantes e indigentes. Por isso, uma família Negra não é como outra qualquer.

Esta é minha história. Qualquer pessoa que me conheça e que tenha sido minha contemporânea, além de identificar no texto alguns nomes e lugares, poderá também ser uma testemunha de nossas palavras.

PARTE-01
_ Onde você mora Negrinho? – perguntou o homem Gordo que estava entrando no clube.
_ Moro na Vila Gavião! – respondeu sorrindo Nellton.

_ Vila Gavião? – Repetiu o homem Gordo fingindo surpresa.

_ Sim! - Confirmou Nellton acenando com a cabeça, todo feliz enquanto olhava para o antipático inquisidor.
– Ah, aquela pocilga aqui atrás? – Referindo-se à Vila _ Aquilo ali é uma verdadeira redoma de chocolate! – Nellton continuou olhando que nem bobo para a cara do homem Gordo. Até gostaria de responder alguma coisa, mas não entendeu nada do que o roliço falara! Só queria mesmo era ganhar um pedaço do suculento churrasco, que derretia sob forte braseiro em casinholas lá debaixo das mangueiras, depois cair fora. Os ricos do Country Clube eram assim mesmo. Ou davam logo um safanão no intruso, ou inventavam umas conversas que ninguém entendia para morrerem de rir, logo em seguida, jogando farofa pelos cantos da boca ou engasgando com cerveja. Redoma de chocolate... O que será que ele quis dizer com aquilo? A única coisa que Nellton entendeu foi “chocolate”. Sabia que era uma coisa gostosa que os Gordos comiam muito, mas que lá na Vila nunca tinha visto nada parecido com chocolate.
Dia de churrasco no Country, era dia de sofrimento para as barrigas esfomeadas do povo da Vila. Bandos de pretinhos magricelas vazavam a cerca de arame farpado, trançados por entre grossas e altas tábuas de peroba, e ficavam à espreita. Nem bem saíam os últimos comensais, invadiam o lugar em busca das sobras. Redoma de chocolate... A frase nunca mais saiu da cabeça de Nellton. Muitos anos se passaram até que finalmente, veio a entender o que o Gordo frequentador do clube quis dizer naquele dia.
                                            
Pedro e Maria tiveram seis filhos. A fertilidade do casal era cronologicamente espantosa. A cada dois anos, quase que sincronizadamente, colocavam uma nova vida no mundo com uma pontualidade intrigante. Em 1947, janeiro-Nellton; 1949, janeiro-Yah; 1951, fevereiro-Naireh; 1953, janeiro-Vilsh; 1955, março-Rinah; 1959, abril-Lisah, a caçula. Veja a cronologia dos meses: janeiro, fevereiro, março e abril. A família de Pedro e Maria era constituída de uma prole como outras tantas, a única diferença é que eram Negros. E uma família Negra não é como outra qualquer.
Pedro até que não era mau sujeito, mas era analfabeto, rude e irresponsável. Assim como a maioria das pessoas de sua época, morava na roça e não freqüentava escolas. Veio de Minas Gerais em comboio com outras famílias mineiras em busca de oportunidades no estado do Paraná. Amontoaram-se num local chamado “Água do Macuco”, na região de Cornélio Procópio. Maria chegou no mesmo grupo. Não demorou muito para que os dois se engraçassem um pelo outro. Mas as coisas nunca poderiam dar certo para eles. Pois Pedro cantava e tocava violão. Já Maria...

2 comentários:

  1. O cara, v. vai publicar o livro, ou excertos, ou textos baseados/desenvolvidos a partir dele ?

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  2. Seguinte Amigo,
    Vou escrevendo conforme as lembranças permitirem. O que vier...

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