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quarta-feira, 18 de maio de 2011

A VIDA
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Para sobreviver ao choque da eterna onda que nos empurra vida afora, foi preciso me transformar em muitos, muitas vezes ao longo do tempo. Tive que assumir o jeito de ser do camaleão e de outros animais, que se mesclam à natureza quando se vêem em perigo, e passam a assemelhar-se a ela. Às vezes se transformam numa folha, numa casca de árvore, num cipó, na tentativa de iludir seus predadores e safar-se com vida. Para sobreviver até aqui, foi preciso me tornar um deles. Foi necessário multiplicar o meu jeito de ser, me moldar à forma e às exigências do meio. Tive que me comportar de várias maneiras diferentes. Readequar-me às diversas situações que se me apresentaram. Mesmo que, com isso, os meus princípios, meus ideais, aspirações e valores fossem contrariados, deturpados, quebrados. Tornei-me um ser mutante, envolvido por uma metamorfose contínua. Fui sendo empurrado vida afora, como se a meu lado existisse um navegador invisível me acompanhando em tempo integral, com uma prancheta nas mãos, redesenhando a cada instante, meu novo comportamento, indicando-me o caminho.





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Viver nada mais é que administrar estas situações que interferem direta ou indiretamente, em nosso dia-a-dia. São elas que nos transmitem a todo instante, as sensações de prazer, de alegria e bem-estar ou o contrário. Assim é a vida. Muitas vezes, cansado e oprimido, optei em maldizê-la, como se ela fosse a única culpada pelo meu desatino. Tive a impressão que ela não me queria por aqui. Tentou me excluir de toda forma, mas não conseguiu, porque fui buscar forças onde não existiam para escorraçar os meus algozes.
            Descobri muito cedo que a vida é uma guerra. Aprendi a lutar. Meu exército é pequeno. Tem apenas um soldado, um único estrategista, poucas armas, nenhuma logística, muitos inimigos e uma vontade enorme de vencer. Aprendi que esta guerra é um jogo sem fim. O tabuleiro é o tempo, a arena é o mundo e as peças são tudo o que nele existe. Neste cenário, batalhas homéricas se desenvolvem ininterruptamente, em todos os níveis e escalas. Os inimigos estão sempre à espreita, prontos para darem o bote. Se o desafeto vacilar, o golpe é fatal. Os sanguinários combates deixam marcas profundas e seqüelas eternas onde quer que se trave a luta. A guerra da vida é diferente das demais. Há derrotas e derrotados, vitórias e vitoriosos, mas jamais haverá um vencedor. Porque esta é uma batalha sem fim. Como declarar um vencedor se não existir um fim? Será que esta é uma indagação absurda? Talvez não passe de meras chispas de loucura. Mas, quem será o último para atestar?



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            Quando o assunto é vida ou morte, sempre fico em dúvida. Ainda não tenho certeza a qual das duas devo emprestar minha simpatia. Confesso que em muitos dos momentos pelos quais passei, a morte não me seria um desencanto. Ela pelo menos oferece algo de concreto. Escondida sob a aura do agouro traz em seu bojo uma promessa de paz duradoura, coisa que a vida jamais oferecerá. Analisando por este ângulo, é importante entender a morte. Contudo seria muita estupidez torcer por ela. A vida ainda é, apesar de tudo, o patrimônio inexorável de todos os seres, humanos ou não. Portanto tudo, absolutamente tudo, deve ser feito para que a vida seja mantida e perpetuada.

5 comentários:

  1. A amiga Sueli disse:

    "Muito bom o texto Fidelis. O legal é que, a essa altura da vida, a gente acaba se reconhecendo também na sua narrativa"

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  2. Vera Sergi Ghilardini comentou assim: "Querido guerreiro: entendo, e como, essa postura do camaleão, esse constante ter que se amoldar às batalhas que surgem diariamente.Você descreve tão claro e fácil os sentimentos que reservo e guardo para sobreviver. Na vida ponho meu amor, na morte a esperença da paz eterna.Saudades"

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  3. Olá Nilson,
    Vera Sergi Ghilardini comentou seu link.
    Vera escreveu: "Obs.: o texto não está só legal, está maravilhoso."

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  4. Muito bacana =D

    E com relação a esta parte: "Há derrotas e derrotados, vitórias e vitoriosos, mas jamais haverá um vencedor. Porque esta é uma batalha sem fim. Como declarar um vencedor se não existir um fim? Será que esta é uma indagação absurda? Talvez não passe de meras chispas de loucura. Mas, quem será o último para atestar?"

    Sem qualquer pretenção de dar respostas definitivas partilho um pensamento afinizado ao de Siddarta Gautama (Budda) que até agora me faz muito sentido. O ponto essencial da vida não está no inicio nem no fim; nem na vitória nem na derrota; sem conquistas ou faltas de conquistas ou seja, o que há é a jornada; o que há é o exercicio de aperfeiçoar a jornada. Então o homem que sobrevive compreende a constante impermanência das coisas para revelar o que permanece: A VIDA, que pulsa, única, intraduzível, sem reducionismos, impar. VIDA: essência que se elabora e se aperfeiçoa nos intensos embates do existir tal como o ferreiro que encontra prazer durante os duros golpes que realiza sobre a lâmina, e, muito embora ao final contemple a bela espada que construiu, nada se figura tão marcante, vibrante, tão forte quanto o conjunto de esforços construídos durante a composição de sua obra.

    Abraços tio! :D

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