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terça-feira, 24 de agosto de 2010

REDOMA DE CHOCOLATE - A PALAVRA      -    
Parte 008                                             

                                                                      O passado é uma sombra que não morre jamais!
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O passado não morre. Pelo menos na mente das pessoas, nos ensinamentos dos professores, nas teses dos mestres, nas sentenças dos magistrados, nos projetos de pesquisas, lá está ele servindo de referência para dar vida ao presente ou para prevenir o futuro. Passado é apenas uma força de expressão usada para designar um instante que o tempo levou. Afinal, o passado é o dono da história, e a história é mãe do presente. Não existe um sem o outro, logo o passado está muito vivo.
Depois de 40 milhões de anos, cansada de peregrinar errantemente de um lado para outro do planeta, disputando espaço na floresta com outros animais, uma das espécies, que depois de um tempo viria a ser chamada de macaco, se transformaria em homem-macaco. Ainda não satisfeita, a Ordem Natural quis lapidar ainda mais aquele ser. Uns 300 mil anos mais tarde, o homem-macaco, que era um quadrúpede, passou a andar ereto, de cabeça erguida. Foi um grande progresso. Mas não bastava, era preciso mais. Era necessário se comunicar melhor. Aquela maneira de falar por meio de grunhidos, aos berros, não parecia correta. Foi aí que aconteceu algo importantíssimo. Aqueles homens, ainda meio macacos, conseguiram transformar os grunhidos em sons articulados. Descobriu-se então a palavra.
É possível que nosso parente, inventor da palavra, tenha se transformado num grande chefe; ou, no mínimo, recebido grande recompensa pela descoberta, pois a palavra revolucionou o desenvolvimento humano desde então. A palavra se tornou a melhor forma de se fazer entender. A este ato deu-se o nome de comunicação.
Comunicar-se é transmitir mensagens inteligíveis que podem ser captadas e compreendidas pelo receptor. Não se pretende desenvolver aqui uma tese a respeito, mesmo porque não é este o objetivo deste relato. O assunto só foi levantado para mostrar que a comunicação está presente em qualquer segmento do processo de relação entre os homens, e que sua importância é inegável. Ao assumir o domínio da linguagem, o homem tornou-se o mais importante entre todos os animais. Tão importante que passou a dominar até mesmo sua própria espécie, a quem vem conduzindo, desde então, com regras opressivas e tirânicas.
Vive-se neste momento, os primeiros anos do século XXI. Fala-se muito em globalização, recursos econômicos, sustentabilidade, responsabilidade social; é a comunicação no ápice de sua aplicabilidade, correndo mundo e abrindo-lhe as portas. Instrumento da modernidade, a comunicação age em toda a sua plenitude em favor, ou desfavor da humanidade em tempo real. Contudo, até mesmo Vô Hipólito, se vivo fosse, dos limites de sua simplória sapiência saberia que não é bem assim. Apenas um terço da população mundial tem acesso à riqueza que entra ou sai pelas portas do mundo. Os dois terços restantes passam ao largo. Sem condições de exibir qualquer vantagem a título de status, sem acesso aos benefícios oriundos do progresso. Expurgada do processo social de bem estar, a pobreza fica à margem. Onde quer que esteja, perde todos seus espaços. Nas grandes metrópoles ou em cidades menores, são amontoados em guetos ou favelas, onde vivem como animais, sujeitos a todo tipo de privação.
As tribunas mais importantes do mundo têm dado pouca importância ao assunto. Não há interesse em levantar esta questão, muito menos discuti-la. Resolvê-la então, nem pensar! A pobreza ainda vive o drama de 300.000 anos atrás, quando o homem se comunicava emitindo grunhidos. Esta parcela da humanidade ainda não aprendeu a articular as palavras, por isso é tratada como seres primitivos, ignorados. Enquanto não aprenderem a articular suas próprias palavras, dificilmente encontrarão caminhos para superar a miséria, a violência e a injustiça. Afinal, quem liga para a justiça, se o contrário é que move o mundo! Nem precisava escrever todo este tópico, bastava a frase em destaque. É nela que está circunscrito tudo que é feito de errado no mundo.

2 comentários:

  1. Gostei muito deste texto =D fiquei aqui pensando também a respeito da linguagem e, me veio na cabeça que sua constituição de fato é feita por mensagem inteligível entre o comunicador e o receptor, neste sentido, é ainda angustioso nos perceber imersos nesta tirânia das letras, em que as vozes mais ouvidas são feitas da erudição dos discursos enfeitados. Mas eu também quis pensar como seria a comunicação entre estes excluídos; nestes campos de violência e miséria. Fiz apenas um rápido desvio em minhas reflexões para lembrar de Henri Bergson, um filósofo francês, que em sua metafísica propõe a intuição imediata como uma maneira de perceber as coisas em si mesmas. Neste caso, a linguagem articulada torna-se secundária para dar lugar ao exercicio de investigação e observação intuitiva dos eventos, experiências, pessoas, enfim situações do dia a dia que exigem neste caso, mais do que uma estrutura intelectiva. Desta forma, me vi pensando nos territórios excluídos, como seria esta linguagem? é claro, sem idealismos hipócritas, mas me vi observando em alguns destes lugares que pude conhecer entre eles em sarandi que entre gritos e falas mal articuladas percebidas dentro de barracos feitos de madeira suja, hávia gritos seguidos de risos escandalosos, que se comunicavam com carinho, percebi que os pés descalsos entre pedregulhos falavam junto ao sorrizo da criança que corria com a pipa na mão. Me senti em cidade interiorana, tal como aquelas caipiras, quando um homem vindo de encontro a mim olhou em minha direção com sorrizo sutil expressando um EEEE!! foi com certeza um bela expressão de boa tarde. Ouvi de uma mãe ao ir embora de sua casa, após breve visita, um deus li pague fiu, como se fosse uma célebre frase dita por drummond. Não é uma exaltação da falta de linguagem e ignorância, mas como é poderosa também esta linguagem que depende da articulação da simplicidade e do coração. Esta que não se prende a articulação de fatos e conceitos, mas, na articulação das intenções. Como disse, sem hipocrisia, mais não pude evitar de pensar este lado e imaginar o bisavô hipólito observando estas duas situações, e dizendo: fio, as palavras dos homi fais eles sê os dono do mundo, pur issu, a nóis que num fala bunitu assim resta conquistar a nóis memu.

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  2. É isso aí. A comunicação imposta, maculada pelo poder e interesses financeiros deprime, mas a natural, despida de interesses impuros é um bálsamo que conforta, seduz e enriquece. Com certeza era com essa fluência balsâmica que meu Vô e seu Bisa Hipólito conquistava sua platéia. Você captou direitinho. Abraços.

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